O que leva em sua mala?

Meus vinte e seis anos não querem dizer muita coisa. Nem seus quarenta. Ou os quinze dela. Tampouco os noventa de outrém. No final das contas, o que importa mesmo é o que você é quando está sozinho. Em que você se transforma quando está acompanhado. O que resta de você quando a luz apaga, e o que sobra quando o sol está de volta. O que vale de verdade é tudo aquilo que você carrega dentro da sua mala. 

Quanto a mim, levo sempre em minha mala o perfume. O meu, e o de minhas memórias. Carrego nela muitos sabores, dos lábios que não esqueço, da saudade de alguma parte minha que cresceu e se foi há algum tempo. Levo dentro dela pedras, algumas pesadas, outras leves, todas elas de minhas dores e quedas, ou das partes que em mim ainda não amadureceram. Mas nessa minha mala também levo as plumas de todos os meus sorrisos, sejam eles leves, daqueles escancarados e barulhentos, ou os silenciosos, que ninguém adivinha. 

Pouco importa para minha mala estes meus vinte e seis anos. Mala velha ou mala nova, mala grande ou mala pequena, o tempo que vivemos por si só de nada adianta para a composição da bagagem de ninguém. O que faz de você ter a idade que tem é o que colocamos dentro da nossa mala, o que carregamos em cada bolso, cada zíper, e tudo aquilo que resolvemos não colocar dentro também. 

Eu não quero saber sua idade. Não quero saber a intensidade das suas rugas, nem reparar na forma que a gravidade agiu sobre seu corpo. Não me fale sobre suas primaveras, ou do que você deveria ter feito com elas. Elas já passaram, não existem mais. Apenas me conte, o que leva em sua mala?