Nunca descobri como viver sem rompantes súbitos de "não sei o motivo mas preciso mudar isso agora". Sem essa necessidade repentina de jogar todas as roupas do armário fora e comprar outras radicalmente diferentes, de comprar um CD de uma banda que nunca ouvi falar na vida, de passar dia na praia em pleno inverno, de sair com uma pessoa nada-a-ver-com-nada-com-você, de desmarcar compromisso pra tomar cerveja em plena segunda-feira, simplesmente porque sim, porque você precisa, porque é necessário, bancar o desejo, esse susto, esse surto, esse fragmento de incoerência momentânea, esse absurdo, essa falta de nexo, essa paixão ensandecida que começa e termina quase no mesmo dia e consome a gente até o último fôlego. Porque sem essa voracidade a gente escorrega facilmente pra boca do tédio, pra boca do nada, pra boca gelatinosa de quem leva a vida sempre em temperatura ambiente, e eu aceito o ridículo, eu vivo bem com o esquisito, com a loucura e o absurdo, mas o morno, ah... o morno não me deixa respirar.
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